sábado, 27 de fevereiro de 2010

Cidadãos do céu




Quem nunca teve a oportunidade de ouvir um toque da campanhia de sua casa ou dizer: “tem gente batendo palmas” e, ao abrir a porta, se deparou – geralmente – com um homem engravatado e uma mulher bem vestida? Ou ainda espiou pela janela sem querer se fazer perceber e disse: “Ih, Testemunhas de Jeová”?

Lembro-me da minha mãe. Ela nunca deixou de atender a estas pessoas. Contudo, após ouvi-las atentamente, nunca pegava “A Sentinela” ou “Despertai” sem antes oferecer o “Mensageiro de Santo Antonio” ou a “Milícia da Imaculada”. Como geralmente os nossos irmãos recusavam-se a aceitar (ainda recusam!) os artigos católicos, ela tinha argumentos “mais educados” para não aceitar as suas revistas também.

Uns meses atrás nossa campanhia tocou. Um homem negro de bela aparência e uma jovem senhora muito simpática e bem vestida ficaram, aparentemente, desconcertados ao verem uma religiosa abrindo a porta!

Fui até eles, cumprimentei-os e começou, por parte deles a “pregação” até que uma pergunta surgiu: “Irmã, pra senhora o que é o Espírito Santo?”

Eu disse: “Eu não vou responder O QUE É o Espírito Santo, mas QUEM É o Espírito Santo, porque para nós (cristãos) o Espírito Santo é uma PESSOA!

E discorri um pouco sobre a consubstancialidade do Espírito Santo ao Pai e ao Filho (CIC art 685) e que só chegamos ao conhecimento do Pai e do Filho por meio do Espírito Santo (Santo Irineu). Por fim, eu disse: o Espírito Santo é o AMOR entre o Pai e o Filho e é Mistério do qual devemos fazer a experiência. Os dois me olhavam atentamente até que o E... me disse: “Interessante esta expressão ‘Amor entre o Pai e o Filho’.” Perguntou meu nome, me deram uma “A Sentinela” e sem muitas palavras ambos se despediram.

Mas acho que faltei por omissão! Eu devia tê-los convidado a entrar e mostrado nossa capela! Mas, ‘tá bom, haverá oportunidades... e outra, eu não segui o ensinamento da minha mãe!!

Semana passada, Ir. Rita atendeu ao mesmo casal (insistentes eles, não???) e perguntaram: “A Ir. Patrícia está?”

Eu não estava, que pena! Mas a Ir. Rita fez “a caridade” de pegar dois fascículos de “A sentinela” e dois do “Despertai”. Nós duas faltamos à aula da D. Odete!

E aqui chego ao assunto principal: “Não vos deixeis enganar por qualquer espécie de doutrina estranha” (Heb 13,9). O casal pode até ser simpático, mas que lástima, pregam uma doutrina falsa.

Uma das revistas deixadas “como encomenda” trazia na capa uma bela figura do sol nascente, já alinhado às nuvens tocadas pelo seu clarão e calor, em tonalidades de amarelo que me fez pensar: “como deve ser lindo o céu”. Não o céu “atmosfera” onde se movem astros e estrelas, que por si é belo, mas o céu, como herança prometida por Deus aos que o amam (cf. Rom 8, 28-30) e fazem Sua vontade (Cf. Mt 7,21).

Comecei a ler a matéria intitulada: “Todas as pessoas boas vão para o céu?” e um trecho dizia: “O homem foi criado para viver eternamente na Terra, e esse propósito de Deus ainda se cumprirá. A Bíblia promete que ‘os próprios justos possuirão a terra e residirão nela para todo o sempre’ (Sl 37: 39). Fica claro que os humanos não foram feitos para viver no céu.” (Não foram feitos para viver no céu!!!) E fora outros absurdos ali impressos.

Se nos voltarmos à liturgia tão rica deste segundo domingo da Quaresma, podemos ler na Epístola de Paulo aos Filipenses: “Há muitos por aí que se comportam como inimigos da cruz de Cristo... e só pensam nas coisas terrenas. Nós, porém, somos cidadãos do céu.” (3, 18b.19c.20.)

Aqui está a segurança da nossa doutrina, firmada na Palavra interpretada à luz do Espírito Santo.

Quando a Igreja reza “Pai nosso que estais nos céus, professa que somos o povo de Deus já “assentados nos céus, em Cristo Jesus, escondidos com Cristo em Deus e, ao mesmo tempo, “gememos pelo desejo ardente de revestir por cima de nossa morada terrestre a nossa habitação celeste”(2Cor 5,2) – CIC art 2796.

Portanto, irmãos, irmãs, firmemos bem dentro do coração esta bela verdade: somos “Filhos do céu, “cidadãos do Infinito”.

Que neste tempo quaresmal possamos nos transfigurar em Cristo, ou pelo menos estar aos pés do Tabor, que é a própria Eucaristia e permanecer atentos à sua voz, buscar nos Sacramentos a força pra nossa restauração, porque nós sabemos que hão de vir os novos céus e a nova terra, e queremos estar lá, em uníssono proclamando: JESUS É O NOSSO SALVADOR!

"Os justos brilharão como o sol no Reino de seu Pai." (Mt 13, 43)

"Eu entendo que os sofrimentos do tempo presente nem podem ser comparados com a glória que deve ser revelada em nós." (Rom 8,18)

"Vós morrestes e a vossa vida está escondida com Cristo em Deus. Quando Cristo nossa vida, aparecer, então vós aparecereis também com ele, revestidos de glória." (Cl 3,3-4)

"Ninguém tenha medo de sofrer por causa da justiça ou duvide da recompensa prometida, porque é pelo trabalho que se chega ao repouso, e pela morte, à vida. O Senhor assumiu toda a fraqueza de nossa pobre condição e, se permanecermos no seu amor e na proclamação do seu nome, venceremos o que Ele venceu e receberemos o que Ele prometeu." (São Leão Magno)

E finalizando, reflita mais uma vez nesta bela Música: FILHO DO CÉU!
Meu fraterno abraço,
Ir. Patricia Souza, PMMI
Comunidade Nossa Senhora do Cenáculo - Barretos/SP

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

DEUS CUIDA SEMPRE...



Deus cuida, quando a dor é tamanha, e, com aquela manha sem compaixão vem machucando profundezas e em silêncio gerando amargas lágrimas. Deus cuida porque um dia viu lágrimas ferirem sua fronte e a insegurança fazer ziguezaguear seus pés. Quando todos os ventos soprarem desfavoráveis e para longe seus sonhos quiserem levar, lembre-se que sua alma tem asas e seu coração sabe voar. Seque as lágrimas e parta na direção dos ventos. Segrede aos ouvidos do tempo os motivos da sua dor e as agonias que lhe dilaceram a alma, confabule com os ares o destino que lhe arrasta e extasia a alma. Aprisione o medo, liberte a esperança, invoque as luzes de tantas vitórias, que já clarearam densas noites. Abandone portos que lhe parecem seguros e se adentre no universo do desconhecido. Abrace os desafios. quando sua esperança banida for para longínquos ou ermo lugares, recoste a cabeça no peito amado do Mestre. Permute com Ele olhar. Grite por Ele do abismo de sua alma Ele fala com poder, ordena com autoridade e sossega ventos guerreiros, ventos traiçoeiros. Quando as intempéries matar um após outro seus sonhos, e, as luzes do íntimo tremular. Quando a ultima das estrelas bruxulear, sussurre o nome santo de Jesus. Diz uma sacra canção que esse NOME tem poder. Quando sua fé vacilar após tanto lutar e seu coração quase naufragar nos debates e combates: lembra que Deus é o Bom Samaritano e que Deus prioriza o cuidar. Do peito do filho faz esconderijo sagrado e apressa em multiplicar as entradas. Fala à maneira do divino: Sou vigilante no amor... Eu sempre cuido. Pensou em você quando olhou comovido pendendo da cruz o sangue do filho. Fez nascer daquelas mãos feridas e pendentes o eterno grito. Kirie eleison. Ele cuida restaurando destinos e descerrando umbrais. No seu Único cravou no santo lenho toda dor. Atou no madeiro todo mal, baniu do mundo criado as armas que ferem e faz sangrar a alma. Ungiu mãos para tocar, marcou rostos para iluminar, Selou corações para abraçar e amar. Deus cuida, Deus cuidará sempre. Ele quer ver mãos saradas curando e pés fortalecidos virando sóis. PRONTO...

Inverno: tempo de desnudar




Inverno é tempo de colher e recolher. Tempo de expor a genuína beleza e pobreza do homem feito parecido com Deus. Tempo de tirar excessos e sacudir ruínas. Inverno é tempo de beijar o chão com a gratidão das folhas secas, certos de que é tempo só de Deus cantar.

É hora de nutrir essa certeza: Deus visita também jardins áridos e neles se deleita como, antigamente, no jardim primeiro. Inverno interior é tempo para ouvir a canção e ficar sem cantar, é tempo também de fazer novos arranjos e transformar noites escuras em anseios pelo amado. É Tempo de clamar como a esposa dos cantares: “Avisa-me, amado de minha alma, onde apascentas, onde descansas o rebanho ao meio dia, para que eu não vagueie perdida”
(Ct 1,7).
É tempo de deixar o vento tocar com sua poesia incomum nossa face,
e tempo de ir com frio e na pura nudez para o regaço do absoluto.
Deserto é tempo de caminhar sem devaneios, usando mais os joelhos do que a mente. É hora de achar a fresta que introduz nas profundezas do Amado e invadir esse esconderijo. Lá há o conforto que perturba o frio e faz a gente reaprender a sonhar.

Inverno é tempo do repouso...
Inverno é tempo de dar atenção às raízes. Tempo de deixar a beleza e o silêncio tocar nosso olhar. Tempo de observar, resignado, o vento brincar com despojos tênues que jaz sobre o chão. Tempo da natureza se recolher numa silente e paciente espera. Tempo de travar bravamente as lutas. E tempo de pôr a alma adoradora de sentinela. Tempo de incertezas porque pode ser gerador ou destruidor. Você escolhe. Mas não esqueça: inverno faz parte da condição humana.

Inverno é tempo de fusão...
Tempo de fusão de lágrimas e preces. Se tal não acontecer, penso eu... O que amenizaria a aridez quase absurda? O que lavaria e levaria para longe o alquebramento? Quem suportaria sem desfalecer o polir do eterno, se prece e lágrimas não fizessem aliança? O que sustentaria no profundo as raízes? O que levaria o homem tão frágil e disperso a reencontrar sua alma de menino?

No inverno não vale insegurança de vontade...
Quando o inverno tocar e apertar a nossa alma num abraço de morte, depressa agasalhemos nossa face no peito de Deus, ali há vulcão de ternura e chamas e a voz que vem do fogaréu é: “Vinde a Mim vós todos”.

Em tempos de inverno, torne poderosa a crença e não deixe a descrença granjear terreno. Apalpe seus joelhos à procura de calos, se seus joelhos forem marcados de tanto ajoelhar, louve, pois o Sol que nasce do alto o visitará e o frio não atravessará as cortinas que protegem sua alma.

Inverno é tempo de rever...
Então reveja sua filosofia de vida, seus caminhos, suas opções. Acorde o poeta que dorme dentro de você e por entre seus dedos coloque pincéis. Deixe-o fazer do seu inverno um deslumbrante poema. Busque entusiasmo criador para a canção e peça ciência para poder fundir seu infortúnio com o absoluto adorável.

Invernos é uma noite longa?
Inverno espiritual é como uma noite longa, demora partir. Mas enquanto dura tem a magia de refazer energias e consolidar pés que hesitam. Inverno é o jeito que Deus emprega para buscar sua face em nós. É a ária que Deus sussurra o tempo todo, para nos dizer que é com fadiga e saudade que nos procura. “Quem é o homem, Senhor, para que dele cuides tanto assim”? Quem sou eu para que me abraces e me visite para me resgatar?

Quando o inverno tocar sua alma é o pare, olhe e escute de Deus lhe agarrando. Sinta-se amado. É a hora de Deus encravar na sua alma a pergunta: “Para onde vais”? Seja amante de você mesmo. Deixe Deus lhe esvaziar de você, pois com peso não se voa e você foi feito para lugares altos.

Inverno é tempo de calar:
Quem nunca se ajoelhou, prostrou ou chorou implorando lenitivo? Quem nunca precisou mandar recado para o céu: estou confusa sem tua face, eu te procuro com o clamor das minhas lágrimas e com os gritos do meu silêncio! O inverno faz a gente sentir temor, mas o Mestre também temeu. Quem nunca chorou a distância dEle? Quem nunca andou às apalpadelas? Você e eu já provamos das águas amargas do travessar do inverno. As lágrimas de nossa alma já machucaram nossos olhos. Somos iguais. Inverno é crivo.O inverno não poupa nem nobre e nem pobre, a ninguém. Mas é porque ninguém deve caminhar onerado demais, com fardos sem valia.

Inverno vem para nos lembrar:
Que somos alpinistas e alpinismo não se ajusta com bagagem em excesso. Inverno é para nos lembrar que somos de LÁ e muita poeira ofusca nossa identidade de filhos desse LÁ, esconde nossa semelhança com o Divino. Inverno é para nos lembrar que Jesus está voltando, e quando voltar na tarde da nossa vida, acho que não merece nos achar escondidos ou revestidos do trivial e ter que repetir a pergunta feita ao nosso envergonhado pai “Onde estás”?

Inverno é tempo de dar uma basta a algumas coisas que levamos E um chega de sermos levados. É convite para calar e fixar o olhar no Divino Rabi da Galiléia e suplicar: Liberta-me de mim. É hora de tirar os entulhos que jogamos em cima do Deus que habita nosso íntimo.

No inverno ore... E se o frio hibernal abraçar sua alma, persevere, inverno passa. Se ele ferir sua face, resista, a brisa virá. Se fizer doer seus pés, prossiga assim mesmo, porque, sem tardar muito, a paz voltará a habitar em seus muros. Ela virá premiar sua constância.

Não ande distraído nos seus invernos, viva-os intensa e profundamente. Caminhe como aprendiz vigilante, deixe o orvalho de cada noite lhe cobrir a fronte e o sol em cada raiar beijar seu semblante.

Viva intensamente esse momento único... Inverno é tempo de agonia instalada, tempo de dor, mas é tempo de graças singulares. Ele não é seu, ele é nosso. Ele vem para todos e sobre todos. Nisto está seu valor e sua agonia.

Inverno não é hora de compreender, é hora de adorar. Não é tempo de voar, é tempo de se prostrar. ”Importa que trabalhemos enquanto é dia”.

Ir.Maria da Penha (PMMI)
19/06/08